segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O Carnaval nas Ruas de São Paulo.


Por Nabil Bonduki*
Aquela ideia de São Paulo como o túmulo do samba, com ruas desertas e tristes nos dias de Carnaval, virou coisa do passado. Tempos em que os paulistanos buscavam desesperadamente pegar um congestionamento em alguma estrada ou se endividar para curtir a folia em Salvador, Recife ou Rio de Janeiro.
Os que saíam da cidade eram considerados felizardos, apesar do custo e das horas em deslocamentos. Os que ficavam, com exceção de quem desfilava em escolas de samba, viravam meros expectadores, geralmente no sofá, curtindo com certa frustração os desfiles dos sambódromos do Anhembi ou da Sapucaí ou a folia nas ruas de outras cidades.
Isso mudou a partir de 2013, quando, por iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura, dirigida pelo hoje ministro Juca Ferreira, a prefeitura alterou sua postura em relação ao Carnaval de rua. Como resultado do diálogo entre o poder público e os blocos, a folia deixou de ser reprimida ou ignorada e passou a ser regulamentada.
Hoje as ruas estão coloridas, as pessoas estão fantasiadas e a cidade está preparada para virar o cenário de uma festa popular que vem sendo ressignificada pela capacidade criativa dos blocos.
Paulistanos podem, a custo zero, se divertir nas ruas, transformando o espaço público em lugar de festa, sociabilidade, namoro e liberdade.
Essa alegria é resultado do modelo adotado para o Carnaval de rua, consolidado em um novo decreto municipal neste ano. As regras estabelecem que a participação é livre, voluntária e gratuita, proibindo a venda de abadás ou de acesso privilegiado.
"Vai quem quer", nome de um dos mais antigos blocos da cidade, é o espírito desse Carnaval que nasceu de baixo para cima, de forma espontânea, sem a paternidade e tutela do Estado. O poder público, entretanto, não pode se ausentar.
O sucesso da festa –neste ano o número de blocos cresceu 36,5% e o número de foliões deve dobrar em relação a 2015– é resultado da potência cultural dos coletivos e do papel da prefeitura na organização e no apoio aos desfiles.
O planejamento do Carnaval de rua começou há seis meses, sob a coordenação da Secretaria Municipal de Cultura e contando com a contribuição indispensável das subprefeituras e de várias secretarias.
Organizamos percursos e horários, considerando a dimensão dos blocos, a capacidade de vias e a interferência em serviços fundamentais. Nesses percursos foi montada a infraestrutura necessária para os desfiles, como banheiros, atendimento de saúde, controle do tráfego, limpeza das ruas etc.
O conforto dos moradores não foi esquecido. Em áreas críticas, como a Vila Madalena, montou-se um esquema especial para evitar os problemas dos outros anos. Grandes blocos que não eram da região foram deslocados para locais mais adequados, fora da zona saturada.
O horário dos desfiles foi reduzido e passou-se a controlar a entrada de produtos irregulares e perigosos, assim como o excesso de visitantes. Apesar do crescimento geral, o número de blocos na subprefeitura de Pinheiros foi estabilizado. Em contrapartida, nas áreas periféricas o crescimento foi de 44%.
Ocupação das ruas com o Carnaval integra a política cultural e urbana da gestão Haddad, que valoriza o espaço público, transformando-o em cenário de eventos culturais e de lazer, abertos aos cidadãos e à cidadania.
NABIL BONDUKI, 61, arquiteto e urbanista, é Secretário Municipal de Cultura de São Paulo e professor titular de Planejamento Urbano na USP. Foi o relator do Plano Diretor de São Paulo (2014).

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